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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus



 
                                                        Josivaldo de França Pereira


A autodesignação de Paulo comoprisioneiro de Cristo Jesus é comum em suas epístolas (cf. Ef 3.1; Fm 1,9).[1]Certamente foi da providência de Deus que Paulo ficasse em prisões muitas vezes (cf. 2Co 11.23), a fim de que, de dentro delas ele escrevesse, por exemplo, boa parte de suas epístolas. Ademais, o cuidado do Senhor com a integridade física do seu apóstolo era evidenciado nessas prisões. Jesus protegia seu servo dos perigos de morte constantemente impostos por seus perseguidores.
A carta a Filemom é a única epístola de Paulo que inicia com a expressão "prisioneiro de Cristo Jesus". Ele a repete no verso nove. É provável que o apóstolo quisesse mostrar a Filemom que se ele (Paulo) podia ser prisioneiro de Cristo, Filemom não devia ter dificuldade em fazer algo menor, isto é, receber de volta o escravo fugitivo Onésimo, não maiscomo escravo, mas agora como irmão caríssimo (Fm 16).
Contudo, o que significava ser "prisioneiro de Cristo Jesus" para Paulo? Além de demonstrar amor aos gentios (Ef 3.1) e contribuir para o progresso do evangelho (Fp 1.12-14), ser prisioneiro de Jesus significava desfrutar da segurança divinal de Jesus. Paulo nunca foi abandonado pelo Senhor e sabia que jamais o seria (cf. 2Tm 4.17,18). Um bom exemplo disso é o fato do apóstolo não ter problema com as autoridades enquanto estava preso.
Na cidade de Filipos, juntamente com Silas, Paulo não foi impedido de cantar e orar (At 16.25). Em Jerusalém as autoridades o salvaram do espancamento dos judeus que o levaria à morte (At 21.30-34). Em Cesaréia o governador Félix "mandou ao centurião que conservasse a Paulo detido, tratando-o com indulgência e não impedindo que os seus próprios o servissem" (At 24.23). Lucas conclui o livro de Atos dizendo que em Roma "Por dois anos, permaneceu Paulo na sua própria casa, que alugara, onde recebia todos que o procuravam, pregando o reino de Deus, e, com toda a intrepidez, sem impedimento algum, ensinava as cousas referentes ao Senhor Jesus Cristo" (At 28.30,31).
A falta de liberdade gerada pela prisão - o direito de ir e vir - representava liberdade em Cristo dentro da prisão. Por mais paradoxal que isso pareça ser, era assim que Paulo via as coisas (cf. Fp 1.12-14). Leia a epístola de Paulo aos Filipenses, escrita também da prisão, e você a achará cheia de alegria, triunfo e confiança no Senhor. É por isso que os cristãos não deviam ficar envergonhados por aqueles que iam para a prisão por causa do evangelho (2Tm 1.8,16).
Depois de dois anos prisioneiro na Palestina (Cesaréia), Paulo foi mandado a Roma numa viagem marítima muito perigosa, que acabou em naufrágio na ilha de Malta. Por conseguinte, ele chegou são e salvo à capital do império, conforme a promessa de Deus (At 27.23,24). Em Roma, Paulo foi prisioneiro de Nero, um dos mais tiranos imperadores, porém, em nenhuma de suas cartas o apóstolo faz referência a si mesmo como sendo prisioneiro de César. Ele sempre diz que é o prisioneiro do Senhor porque, além das correntes, dos guardas e dos processos imperiais de justiça, ele via a mão de Jesus dirigindo todas as coisas. Em momento algum ele se lamenta por estar na prisão, como se dissesse: "Com tanta coisa para se fazer lá fora, e eu perdendo tempo aqui dentro".
Na prisão, Paulo ocupou muito bem o seu tempo com a pregação do evangelho à guarda pretoriana, àqueles que o visitavam e escrevendo suas cartas.
 



[1] Para outras expressões correlatas em Paulo, veja Rm 16.7; 2Co 6.5; 11.23; Ef 4.1; 6.20; Fp 1.7,13,14,17; Cl 4.3,10,18; 2Tm 1.16; 2.9; Fm 10,13,23.

CARTAS DA PRISÃO





Enquanto estava preso pela primeira vez, em Roma, o apóstolo Paulo escreveu cartas aos Efésios, Filipenses, Colossenses e a seu amigo Filemom.



Aos Efésios
Escrita entre 60 e 61 (dC) - Confinado e aguardando julgamento (3.1; 4.1; 6.20), o apóstolo escreve esta carta, uma espécie de circular - para ser lida por várias outras congregações.
Éfeso era um importante porto da Ásia Menor, localizado perto da atual Izmir ( ou Esmirna, na Turquia). Éfeso está presente também em  Ap 2-3. É o lugar onde Paulo, em sua terceira viagem missionária, cerca de 10 anos antes, permaneceu por cerca de três anos, fazendo maravilhas extraordinárias ( ver Atos 19-11 ).
A mensagem mais forte  de Efésios é  “Para louvor de Sua (Cristo) glória” (1.6,12,14). A palavra glória ocorre oito vezes no texto. O seu grande objetivo é a  ênfase no compromisso de Jesus em construir uma igreja ( corpo de Cristo )  gloriosa, madura sem mácula, nem ruga... (5.27).
Efésios revela Deus  trazendo a igreja para seu objetivo que é Cristo. Os passos básicos de amadurecimento são dados na direção do compromisso da igreja em lutar contra os poderes do mal. A carta divide-se em duas seções: A) Os capítulos da 1 a 3 são de natureza doutrinária e tratam dos privilégios espirituais da Igreja; B) Os capítulos de 4 a 6 são exortações e tratam das responsabilidades espirituais dos cristãos.
Referencias a Cristo: Aos Efésios  foi chamado de “Os Alpes do NT”, “O grande Cânon da Escritura” e “O ápice real das Epístolas”, não somente por seu grande tema, mas devido à majestade do Cristo revelado aqui. Cap. 1: Ele é o redentor (1.7), aquele em quem e por quem a história será definida (1.10); Ele é o Senhor ressuscitado que  ressuscitou dos mortos e do inferno e que reina como Rei, derramando sua vida através de seu corpo, a igreja - a expressão atual dele mesmo na Terra (1.15-23). Cap. 2: Ele é o pacificador que reconciliou o homem com Deus e que também possibilita a reconciliação entre os homens (2.11-18); Ele é a principal pedra da esquina do novo templo, que consiste no seu próprio povo sendo habitado pelo próprio Deus (2.19-22). Cap. 3: Ele é o tesouro em que são encontradas as riquezas inescrutáveis da vida (3.8); Ele é o que habita nos corações humanos, garantindo-nos o amor de Deus (3.17-19). Cap.4: Ele é o vencedorque acabou com a capacidade do inferno de manter a humanidade cativa (4.8-19). Cap. 5:Ele é o marido modelo, dando-se sem egoísmo para realçar sua noiva - sua igreja (5.25-27, 32). Cap.6: Ele é o Senhor, poderoso na batalha, a força necessária para seu povo enquanto eles se armam para a batalha espiritual (6.10).
Referências ao Espírito Santo: Assim como Cristo, o ES é revelado de uma forma ampla e através do crente: em 1.13, ele é o selador, autorizando o crente a representar Cristo; em 1.17 e 3.5, ele é o revelador, iluminando o coração para aprender o propósito de Deus; em 3.16, ele é o doador, a quem Cristo dá força; em 4.3, ele é o Espírito da unidade, desejando sustentar a ligação de paz no corpo de Cristo; em 4.30, ele é o Espírito de santidade, que pode se entristecer por causa da carne; em 5.18, ele é a fonte através da qual todos devem ser continuamente cheios; em 6.17-18 ele é que dá a Palavra como espada para uma batalha e o assistente celeste que nos foi concedido para nos ajudar a orar e a intervir até que obtenhamos a vitória.


Aos Filipenses
A Igreja de Felipo foi estabelecida por Paulo, por volta do ano 51 dC, e está registrada no livro dos Atos dos Apóstolos 16:12-40. Desde o começo, a Igreja apresentava um forte zelo missionário e era constante em seu apoio ao ministério de Paulo.
Paulo desfrutou de uma amizade mais próxima com os filipenses do que com qualquer outra igreja.
Paulo escreveu esta carta  por volta de 61 dC, para agradecer suas contribuições, aproveitando para elogiar a Epafrodito, que tinha trazido a doação de Filipos, e a quem Paulo estava enviando de volta.
Em muitos aspectos, esta é a mais bela cara de Paulo, cheia de ternura, calor e afeição. Seu estilo é espontâneo, pessoal e informal, apresenta-nos um diário íntimo de suas próprias experiências espirituais de Paulo. A sensação dominante por toda a carta é a alegria triunfante. Paulo, embora prisioneiro, era muito feliz, e invocava seus leitores para sempre se regozijarem em Cristo. Para Paulo, Cristo era mais do que um exemplo, Ele era a própria vida do apóstolo.
A mensagem permanente aos filipenses diz respeito à natureza e base de alegria cristã. Para Paulo, a verdadeira alegria não é uma emoção superficial que depende de circunstâncias favoráveis do momento. A alegria cristã é independente de condições externas, e é possível mesmo em meio a circunstâncias adversas, como sofrimento e perseguição.
A alegria definitiva surge da comunhão com Cristo ressuscitado e glorificado. Por toda a carta, Paulo fala da alegria do Senhor, enfatizando que somente através de Cristo se alcança a alegria. Essencial para essa alegria é a convicção da autoridade de Cristo, baseada na experiência do poder de sua ressurreição. Devido a essa convicção, a vida de Paulo ganhou sentido.
Mesmo a morte tornou-se uma amiga, pois o levaria a uma maior experiência da presença de Cristo (v 1.21-23) A alegria apresentada em filipenses envolve uma expectativa ávida da volta eminente de Cristo.
Paulo também descreve uma alegria que surge da comunhão na propagação do evangelho. Ele começa a carta agradecendo aos filipenses por sua parceria na divulgação dos evangelhos através de suas ofertas monetárias. As ofertas, entretanto, são apenas uma expressão de seu espírito de comunhão, ou como ele coloca em 4.17, “o fruto que cresça para a vossa conta”.
Sendo assim, a alegria cristã é uma conseqüência de estar em comunhão ativa com o corpo de Cristo.
Referências a Cristo:Para Paulo, Cristo é a soma e a essência da vida. Pregar Cristo era sua grande paixão; conhecê-lo era sua maior aspiração; sofrer por ele era um privilégio. Seu principal desejo para seus leitores era de que eles pudessem ter a mente de Cristo. Para sustentar sua exortação de humildade, o apóstolo descreve a atitude de Cristo, que renuncia à glória dos céus para sofrer e morrer por nossa salvação (vers 2.5-11),realçando tanto a divindade quanto a humanidade de Cristo.
O Espírito Santo: A obra do Espírito é mencionada 3 momentos: primeiro, Paulo declara que o Espírito de Jesus, juntamente com as orações dos filipenses, será o responsável por sua libertação. (vers 1.19). O Espírito Santo também promove unidade e comunicação com o corpo de Cristo, um só espírito e uma só atitude (vers 2.1).Então, sem rituais e formalidades, o Espírito Santo inspira e direciona o louvor dos verdadeiros crentes (vers 3.3).


Aos Colossenses
Paulo nunca tinha visitado Colossos, uma pequena cidade na província da Ásia, a cerca de 160 km de Éfeso. Epafras, um nativo da cidade e provavelmente convertido pelo apóstolo, talvez tenha sido o fundador e líder da igreja ( 1:7-8; 4:12-13). A igreja aparentemente se reunia na casa de Filemom (Fm 2).
Está carta foi escrita por volta do ano 61 dC. Em algum momento da prisão de Paulo Epafras solicitou sua ajuda para lidar com falsas doutrinas que ameaçavam a igreja em Colossos (2:8-9) e, ao que tudo indica ensinava que Jesus não era nem completamente Deus e nem completamente homem, mas apenas um dos seres semi-divinos que ligavam o abismo entre Deus e o mundo.
Nenhum outro livro do NT apresenta de forma tão completa a autoridade universal de Cristo ou a defende com tanto cuidado.
Colossenses  apresenta Cristo como o Senhor supremo em cuja suficiência o crente encontra perfeição (1:15-20). Os primeiros dois capítulos apresentam e defendem essa verdade; os últimos dois desvendam as implicações práticas.
Paulo declara a autoridade de Cristo de três formas : Primeiro, Cristo é o Senhor de toda a criação. Sua autoridade abrange todo o universo material e espiritual (1:16). Como isso inclui os anjos e planetas (1:16; 2:10), só Cristo merece ser louvado e não os anjos (2.18). Além disso, não há motivo para temer os poderes espirituais demoníacos ou buscar através de superstições  sua proteção  pois Cristo neutralizou o poder deles na cruz (2:15). Como soberano e detentor de todo o poder, Cristo não é apenas o Criador do universo, mas também o preserva (1:17), é seu princípio e seu fim (1:16).
Em segundo lugar, Jesus é o superior na igreja (1:8). Ele é a vida e líder dela, e a igreja só deve submeter-se a Ele. Os colossenses devem permanecer arraigados a Ele (2:6-7) ao invés de se encantarem com especulações e tradições vazias (2:8,16:18).
Em terceiro lugar, Jesus é supremo na salvação (3:11). Nele somem todas as distinções criadas pelo homem e caem as barreiras. Ele transformou os cristãos em uma única família onde os membros são iguais em perdão e adoção; é Ele quem importa, em primeiro e em último lugar. Portanto, contrário à heresia, não há qualificações ou exigências especiais para vivenciar o privilégio de Deus (2:8-20).
Os caps. 3-4 lidam com as implicações práticas de Cristo na vida diária dos colossenses. Paulo usa a palavra “Senhor” nove vezes em 3:1-4:8, o que indica que a supremacia de Cristo invade cada aspecto de seus relacionamentos e atividades.
Paulo eleva Cristo como o centro de tudo que existe,  Ele é a revelação e representação exata do Pai (1:5), bem como a encarnação da total divindade (1:19; 2:9). Ele, que é Senhor da criação (1:16), da igreja (1:18), e da salvação (3:11), habita os crentes e é sua “esperança e glória” (1:27). O supremo criador e mantenedor de todas as coisas (1:16-17) também é um salvador suficiente para seu povo (2:10)
A Carta aos colossensses faz uma única referência explícita ao ES, usada em associação com o amor (1:8). Alguns sábios também entendem “sabedoria e inteligência espiritual” em 1:.9 em termos de dons do Espírito. Para Paulo, a autoridade de Cristo na vida do crente é a evidência mais crucial da presença do Espírito.


A Filemon
Juntamente com a carta que escreveu aos colossenses, de sua prisão romana, por volta de 61 dC, Paulo enviou essa pequena epistola, ao seu amigo pessoal Filemom.
Tudo indica que Filemom tinha se convertido sob o ministério de Paulo (v.10), que morava em Colossos, e que a igreja colossense se reunia em sua casa (v.2). Onésimo, um de seus escravos tinha fugido para Roma, aparentemente depois de danificar ou roubar a propriedade do mestre (vs. 11,18). Em Roma, Onésimo entrou em contato com o preso Paulo, através do qual se converteu aos caminhos do Senhor (v.10). Tíquico e o próprio Onésimo aparentemente entregaram as duas cartas (Cl 4.7-9; Fm 12).
O relacionamento próximo de Paulo e Filemom é evidenciado através de suas orações mútuas (vs 4 e 22) e de uma hospitalidade que deixa as “portas abertas” (v.22). Amor, confiança e respeito caracterizavam a amizade deles (v 1, 14,21) O Apóstolo desejava uma verdadeira reconciliação cristã entre o proprietário de escravos que fora lesado e o escravo, agora convertido. Paulo, com delicadeza, mas com urgência e, sem se utilizar de sua autoridade apostólica, intercedeu por Onésimo e expressou total confiança de que a fé e amor de Filemom resultariam no perdão (vs 5,21).
Mesmo sendo a mais curta das epístolas de Paulo, Fm é uma profunda revelação de Cristo operando em sua vida  e na vida daqueles à sua volta. Ela revela como Paulo endereçou com educação, porém com firmeza, expressando o tema central da vida cristã, isto é, o amor através do perdão. A epístola é uma revelação autêntica dos verdadeiros relacionamentos cristãos.
Depois de agradecer pessoalmente a Filemom e seus companheiros crentes, Paulo dá graças por seu amor e fé em relação a Cristo e a seus companheiros crentes. O amor fraternal normalmente exige graça e misericórdia práticas, e Paulo logo chega a esse tópico. Ele explica a conversão de Onésimo e o novo valor do escravo no ministério e família de Jesus Cristo (12-16).
Essa transformação, junto com a profunda amizade de Paulo com os dois homens, é a base de um novo começo. Não se trata de um apelo superficial de Paulo, pois ele preenche um “cheque em branco” em nome de Onésimo para pagar qualquer tipo de dívida (vs 17-19). Ele faz a petição já sabendo que o amor e caráter de Filemom prevalecerão.
Essa epístola é um exemplo poderoso da mensagem do evangelho. Antes um escravo alienado, Onésimo agora também é um “querido Irmão” em Cristo (v.16). Dessa forma Filemom é desafiado a mostrar o mesmo perdão incondicional que ele recebeu através da graça e amor de Jesus. A oferta de Paulo em pagar uma dúvida que não era sua é um quadro claro da obra do Calvário. A intercessão de Paulo é, além disso, tipifica à intercessão contínua de Cristo junto ao Pai em nosso nome.
Mesmo não mencionando especificamente o Espírito Santo, foi ativo no ministério de Paulo e na vida da igreja. É o ES que batiza todos os crentes, seja escravo ou livre, no corpo de Cristo (1Co 12.13); e Paulo aplica essa verdade na vida de Filemom e de Onésimo. O amor, fruto do Espírito, é evidente por toda a carta.